quarta-feira, 23 de março de 2011

Renascer


Vamos andar para trás!
Apagar tudo das células já cansadas,
Desfazer as memórias gastas pelo tempo.
Vamos voltar a ser ovo e espermatozóide.
Sentir a pele enrugada e molhada no útero,
Beber do sangue da mulher que nos pare,
Respirar a dor da primeira golfada de ar.
Vamos chorar... bem cá do fundo! Bem alto!
Gritar ao Universo que existimos,
Sentimos tudo e somos a valer desta vez!
E agora sem medo do tic-tac da validade,
Vamos ser loucos!
Embrenhar-nos de sentimento,
Amar no fogo e no gelo,
Ser terra firme e vento agitado!
Vamos ser... Só. Mais vivos que nunca!
Sim, porque (re)nascemos há bocado!
Somos agora espíritos com sentidos aguçados,
Carne fresca, pura e sem inocência!
Voltamos ao mundo de sempre mas não somos mais daqui!
Renascer puro num mundo profano é abismo!
Não está ao alcance de qualquer um.
É arriscar sentir o que por ninguém é entendido...
É sentir-nos, por vezes, sem casa, deslocados.
É ser! Existir em principio, em vontade,
É crescer... é ir...
Nesta loucura densa dos que renascem,
Na embriaguez dos que já saltaram
E são consciência viva do peso infinito da tela,
Porque a sentem na carne e a diluem nas entranhas.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Raízes em asas...


Neste desassossego ando a vaguear
Desarranjada, desconcertada, sem ar
Com raízes nos pés e asas nas costas,
Razão é corrente, sentidos são voo!
Deambulo e sou menina assustada
Efémera borboleta em cores trocadas
Pássaro evadido de um planeta perdido
Longe do ser sou corpo despido…
O manto da invisibilidade única veste
É fuga perfeita… A semente cresce
Lugar onde sonho é sitio real
Perco-me acorrentada neste ritual
Escavo a terra alimento-me do pólen
Raízes não pesam mais que asas podem
Sou vento em fúria, espírito liberto
Menina frágil em denso deserto…