sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Diz...

Diz...

Ou não...
Explode em gritos mudos
Segreda só para ti os verbos mais intensos

se mais ninguém os souber

Souber...
Com o saber da alma velha...

Sentir...

Aperta o nó de cada letra
Da à palmatória a mão já dorida
Canta disparates ao ouvido de um surdo
Porque não interessa
Se os ouvidos para quem gritas ouvem o mesmo.

Não digas se para isso desceres à futilidade dos que não se sentem
Não concertes frases para que te entendam
Deixa-te ser louco!

Não permitas que a tua loucura caia num jogo vão...
Jamais!

Não digas a ninguém cuja terra é esta
Embala com a tua voz os Anjos
E Eles apenas...
Joga com quem está à altura!

E aí sim, diz!
Emaranha-te com o frenesim
Não deixes que te calem...

Mas fala só se for assim.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sei...

Queria decifrar em que dias acabam as marés...
Como terminam elas se eternas são as luas?
Se o sal seca ao sol e não há idodo que o leve...
Foi poema enganado em noite de estrelas? Em dia que não nasceu mais...
As dunas?! Transporta-as em docura o vento...
O mesmo que é vento encerrado na nau... o que é à sombra dele?
Em que porto atraca o corpo cansado da batalha que não foi?
Porque vence o ego? Porque sustenta a barra?
Sinto... Sei? Não sei...
São fantasmas em paraísos perdidos, são véus assombrados...
Foi verdade o óasis que virou miragem? Nunca existiu?
Entrelinhas são letras confusas em mãos trémulas e pensamentos revoltos...
E rendem-se trovões porque cego na sua luz se torna o maior gigante.
O chão beijado fica na memória do que não foi mais...
Assim foi a água quente que não molhou a chuva
A ser nuvem escura em porto de sol frio...
Ãncora em barco rendido.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Gigante...

Do gigante querer que à sua vontade me rende
Sem que me sinta perdia no sufoco da batalha
Corpo algum jamais sentiu o que foi para lá do extremo
Foram feridas lambidas, sentidos despertados
Destino a ser...
E porque a vida foi num sopro quente que nasceu
Não sei que Cometa da orbita saiu
Se foram relâmpagos de luz que relembraram
Urgência em aperto num sempre desejado...
O que é, pode não ser?
Neste imenso amor que a seus pés me curva
Sem que me sinta a espinha na dor do consolo
Olhar algum viu jamais o que foi para lá do infinito.
Foram gritos surdos, memórias libertas
Promessa que já é...
E porque a vida que pairou não mais se quer igual
Não sei que Universos não são mais perdidos
Se foram ventos de estrelas que nunca brilharam
Silêncios falantes na distância que queima...
É sonho a ser... pode não ser?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Estamos vivos...


Podemos sentir a areia, ver a lua, cheirar a maresia...
Estamos vivos!
Somos restos de tudo, memorias vivas!
Palavras caladas, choros escondidos, risos disfarçados
Pele enrugada, suor em bica, desejos secretos!
Estamos vivos!
Sabemos o gosto frio do gelado, o quente do chocolate
O fresco das ventoinhas, o ruído das árvores!
Somos raivas contidas, amores escandalosos
Somos anjo caído, nuvem de algodão!
Estamos vivos... somos imaginação!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Não é fácil, bem o sei...


Não é fácil, bem o sei...
Quando na consciência do gume afiado da vida
A linha que traçamos deve permanecer recta
Quando o gelo pesa mais que a alma
E sentimos a gravidade trocar-nos as voltas.

Vontade é reinventar as letras
Sair para o dia de sempre
Como se fosse tudo novo
É ser o estranho, o desterrado
E SER a valer, sem querer saber.

Não é fácil, bem o sei...
Quando a carne se sabe efémera
E a alma se sente eterna neste limbo
Não é fácil desnutrir o peito do ar da vida,
Antes que a sede do fogo nos derrube...

Não é fácil...
Mas, que sei eu afinal?
Se é de coragem que falamos,
É aos audazes que pertence escrever o destino...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Porque não...


Porque não...
Porque talvez não seja todos os dias
Porque os dias não também são dias.
Porque há coisas que não sabem ser
Porque há coisas que não sabemos fazer existir
Porque renascemos mas a carne guardou memórias
Porque parimos gritos mudos em medos que de nós escondemos
Porque todas as cores nos deixaram na escuridão do preto
Porque o choro foi conjunto mas as lágrimas secaram sós
Porque fomos só dois mas não to soube dizer
Porque foram só nossos os beijos mas deixaste-os fugazes
Porque a fome que saciamos deixou-me sede que não confessei
Porque as leis da terra foram cruas e o desamparo mutuo
Porque o relógio parou mas não demos conta
Porque nos exultamos lado a lado sem nos lançarmos ao fogo
Porque voamos mas o voo foi rasante ao abismo
Porque estávamos por tudo mas não soubemos acalmar a ânsia
Porque as palavras foram muitas e nunca nos soubemos.
Porque não...
Porque não pode ser todos os dias que escrevemos juntos
Porque nem sempre é tempo de ser... e tudo é como deve ser.
Porque o adeus ficou marcado no silencio... e foi assim.
Porque nem todos os dias são felizes.
Porque te quis mais do que te tive.
Porque sim... se calhar faz parte...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fuga...


Às vezes queria fugir para as estrelas!
Ir num suspiro até a ponta mais longe do arco-íris.
Ser pena levada pelo vento,
Avestruz cabisbaixa, larva em caverna profunda,
Carne apodrecida, alma morta sem memoria!

Às vezes queria ser fantasma... Buraco negro!
Trovão revoltado, chuva passageira.
Fugia para a floresta mais encantada,
Dançava com o gnomo mais mágico
Levada nas asas da mais linda borboleta...

Às vezes queria não ser...
Só e apenas... não ser mesmo!
Ser simples...
Ser energia que flui sem ritmo imposto
Só em mim.
Só quando... se quisesse.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Juntos no escuro...


Hoje sou de todas as cores...
Tenho o luto do branco, a imensidão do preto
Dei-me à guerra que não pedi e perdi-me
Olhei a maneira como me observas
Prostrei-me à coragem da Natureza
Porque brota na pedra mais dura
Achei-me, reinventei-me,
E fomos um beijo alvoraçado,
Um abraço apertado em olhos de luz
Mas chorámos sozinhos no escuro...
E porque hoje sou de todas as cores...
Tenho a languidez do purpura, a revolta do vermelho
Dei-me a sentir e emaranhei-me no laço
Olhei o precipício onde nos jogamos
Rendi-me ao sufoco da queda,
Asas livres pedem sempre mais...
E somos um beijo em urgência...
Corpos misturados em olhos de sede
E porque o fruto proibido é doce,
A natureza da batalha é inflamável
E as leis da terra de todas as cores.
Mas choramos sozinhos no escuro...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Renascer


Vamos andar para trás!
Apagar tudo das células já cansadas,
Desfazer as memórias gastas pelo tempo.
Vamos voltar a ser ovo e espermatozóide.
Sentir a pele enrugada e molhada no útero,
Beber do sangue da mulher que nos pare,
Respirar a dor da primeira golfada de ar.
Vamos chorar... bem cá do fundo! Bem alto!
Gritar ao Universo que existimos,
Sentimos tudo e somos a valer desta vez!
E agora sem medo do tic-tac da validade,
Vamos ser loucos!
Embrenhar-nos de sentimento,
Amar no fogo e no gelo,
Ser terra firme e vento agitado!
Vamos ser... Só. Mais vivos que nunca!
Sim, porque (re)nascemos há bocado!
Somos agora espíritos com sentidos aguçados,
Carne fresca, pura e sem inocência!
Voltamos ao mundo de sempre mas não somos mais daqui!
Renascer puro num mundo profano é abismo!
Não está ao alcance de qualquer um.
É arriscar sentir o que por ninguém é entendido...
É sentir-nos, por vezes, sem casa, deslocados.
É ser! Existir em principio, em vontade,
É crescer... é ir...
Nesta loucura densa dos que renascem,
Na embriaguez dos que já saltaram
E são consciência viva do peso infinito da tela,
Porque a sentem na carne e a diluem nas entranhas.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Raízes em asas...


Neste desassossego ando a vaguear
Desarranjada, desconcertada, sem ar
Com raízes nos pés e asas nas costas,
Razão é corrente, sentidos são voo!
Deambulo e sou menina assustada
Efémera borboleta em cores trocadas
Pássaro evadido de um planeta perdido
Longe do ser sou corpo despido…
O manto da invisibilidade única veste
É fuga perfeita… A semente cresce
Lugar onde sonho é sitio real
Perco-me acorrentada neste ritual
Escavo a terra alimento-me do pólen
Raízes não pesam mais que asas podem
Sou vento em fúria, espírito liberto
Menina frágil em denso deserto…

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Agora que é chegada a hora...


Agora que é chegada a hora de partir,
Despojo-me da carne apodrecida
Ponho nu a alma outrora adormecida
E corto os punhos ao corpo que vejo esvair...

Perco-me por labirintos de desejos inconscientes
Entrego-me às almas que só elas sabem sentir
Julguem-me os Deuses por amores desobedientes
Tragam carrascos e levem-me os Anjos a cair

Agora que é chegada a hora de sentir
Não quero menos que vício, obsessão…
A carne molhada e derretida… a fundir.
Mergulho em precipício, vertigem sem chão!

Renasço no teu sal, bebo da tua alma… consumo-me
Sou espírito em urgência de se perder no imenso
Condenem-me os astros se à luz torno em lume
Se asas renascem e ao que é puro e cru pertenço...